sábado, 24 de setembro de 2011

Laços ao vento

Hoje eu acordei muito mal, tudo que eu consegui fazer foi ir ao banheiro e vomitar duas vezes.
Mas eu não estou doente, não da maneira que você está pensando, eu estou fraco na minha alma, com o coração despedaçado. Como se não me bastasse um casamento ruim ainda, perco um namoro de três anos, onde o culpado maior não seria ninguém além de mim.

Parece que assumir o erro, e dizer-se arrependido não é suficiente para alguém como você.
Na verdade não sei o que vai acontecer daqui para adiante, o que sei é que vou ter de mudar os planos no qual você estava incluída, porque sei que não quer mais participar deles. Eu vou tentar ser alguém melhor sabe,  aproveitar esse erro para aprender que pequenas coisas como um beijo,  podem separar três anos de ternura amor e carinho.

Sei que não é má pessoa, e que não me deseja mal, eu conheço você.
Você é maravilhosa, mas eu tenho de continuar, mesmo sem seu amor, porque a vida seria o que além de errar e aprender.
Peço a Deus que te abençoe...seja feliz, desejo do fundo do meu coração.


sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Despertar





Está é a história de Vinicius André Rosan.



Vinicius era uma criança de cinco anos alegre e comum, muito feliz, pois tinha uma família boa e estruturada.  Como qualquer criança da sua idade, brincava e se divertia como nunca. Sua imaginação não tinha limites, e seu carisma encantava a todos.



Um dia brincando em um brinquedo de um parque próximo a sua casa, em um acidente sem explicação, caiu e bateu a cabeça violentamente em uma chapa de ferro. Foi levado inconsciente imediatamente ao hospital e ao acordar, achou estranho não conseguir se levantar. Tentava mexer as pernas e não conseguia, se deu conta que não poderia andar, para desespero de seus pais e irmã.



Vários exames foram feitos e nada explicava a imobilização daquela criança, tudo que os médicos podiam dizer é que em algum lugar do cérebro de Vinicius, algo foi danificado e acabou deixando aquele menino paraplégico. Foi um golpe terrível para aquela família, mas a vida continuava, mesmo com suas tristezas. Os anos passaram e Vinicius cresceu e aprendeu a viver com sua deficiência.



A vida de um deficiente não é boa, fora a ajuda pra quase todo tipo de locomoção, tudo em si tinha uma dificuldade maior. Para ir estudar seus pais precisaram adaptar o carro para um cadeirante, e na escola e nos recintos, nada era adaptado, então além da própria deficiência, vivia com o preconceito do olhar das pessoas, dos comentários impertinentes sobre sua situação e com a timidez de talvez sempre precisar da ajuda de alguém, o que era extremamente incomodo para ele.



Embora vivesse preso a uma cadeira de rodas, conseguiu se sobressair no mundo da informática, e tinha reconhecimento na profissão. Era extremamente habilidoso em todos os programas e logo ficou conhecido e bem remunerado. Sua única desilusão era saber que um relacionamento com alguém seria complicado, e que achar a tal pessoa certa ia ser mais difícil para ele, do que talvez para as outras pessoas.



Os anos passavam, e Vinicius vivia sua vida. Aprendera a aceitar seu destino. Não era feliz, mas tentava ser. Um dia, talvez fosse feliz permanentemente, sem ter a ilusão de voltar a andar. Não podia se iludir, pois  a vida é dura com quem se ilude, e não poderia esperar por milagres.



Visitara a irmã Mariana, que se divorciou e morava sozinha em um novo bairro.  Como ela não conseguia se aproximar tão rápido dos novos vizinhos chamou Vinicius para que passasse uns dias com ela. Divertiam-se e falavam sobre as possibilidades. Era ótimo estar com a irmã e jogar conversa fora, pois seu apartamento era muito triste, e ter a oportunidade de estar com ela o deixava feliz, pois ela viajava muito para o exterior.



Mas em uma noite de outono, enquanto conversavam, ouviu um barulho estranho na cozinha. Sua irmã se levantou e foi ver. Surpreendida foi imobilizada por um bandido, que invadiu a casa naquele momento, e ao ver a garota, logo a amordaçou.



 Em seguida foi à sala e viu Vinicius, que tentou gritar para chamar os vizinhos, mas foi silenciado com um soco, que o arrancou de sua cadeira o jogando bem distante. Era um momento desesperador, pois Vinicius viu o bandido se dirigir a irmã, e suas intenções eram explicitas:

 Ele não queria roubar.... ele iria estuprá-la.



De longe conseguiu se arrastar até a cozinha, gritava pedindo para que aquele homem parasse com aquilo, disse que daria todo o dinheiro que tinha que faria tudo que ele quisesse, mas que deixasse sua irmã em paz.



Mas aquele homem carregava a morbidez de um doente mental, que só conseguia enxergar um corpo feminino e seu prazer. Seu desejo insano o dominava, e assim, não pararia até se satisfazer, nem que tivesse de matar as vitimas após o seu ato.

Olhou para Vinicius e riu.

 Como todos os garotos da quinta série, como todas as meninas do curso de violão, como todas as pessoas que passavam por sua vida e diziam :

“Você é incapaz de fazer algo neste momento”.



Então sentiu que todas as células de seu corpo começaram a se agitar. Começou a transpirar sem medida, e em um momento de desespero puro, sentiu uma dor na parte inferior da coluna. Ao olhar para seus pés, notou seu dedão flexionado.

Então uma fé sem explicação se apossou de seu ser, e pensou que se o dedo mexeu talvez suas pernas também mexessem.



Tentaria se levantar.



 Os gritos de sua irmã o faziam olhar para o homem tentando rasgar suas roupas, e aquilo ativou algo.... ele iria salva-la, nem que perdesse a própria vida. Apoiou-se na parede, e flexionou também o joelho, conseguiu dar um passo, e outro, e caiu novamente. Levantou-se agora com mais velocidade, pegou uma barra de ferro na porta da sala, que a irmã usava para abrir a porta da garagem, e foi à cozinha, caminhando como um bebê que aprendia a andar se apoiando nos objetos...



O homem, que já havia tirado a calça de sua irmã, estava quase a penetrando... sabia que não teria muita chance, e que aquele golpe que daria, teria de ser com toda a força de seu corpo.

 Lembrou da força que tinha nos braços, adquirida dos anos em que empurrava uma cadeira, e sabia que existia uma chance.



 Sem hesitar...... atacou aquele homem.



Jogou-se em cima do meliante, que ao se virar assustado, tomou um golpe impactante no crânio. Parte da sua cabeça estava amassada, e eles podiam ver.  Mariana conseguiu se desvencilhar, mas o homem ainda tentava se levantar, então Vinicius em um golpe derradeiro, espalhou sangue pela parede da cozinha.

O individuo desta vez não mais levantaria.



A polícia chegou após um telefonema de Mariana, e depois todos os canais de mídia da cidade.
Vinicius conseguiu com fisioterapia,  voltar a andar depois daquele episódio, e não foi considerado culpado de homicídio.

Em julgamento considerou-se que estava em um caso de legitima defesa, e invasão de propriedade do infrator, assim foi absolvido de todas as acusações.



Agora sua vida seria diferente, existia expectativa, e pensava nos desígnios de Deus.

Foi a uma instituição de caridade e doou sua cadeira, olhou para todas aquelas crianças e contou sua história, enchendo a todas de esperânça em seus corações. Apesar da felicidade de não ser mais um deficiente, conseguia entender a tristeza por detrás daqueles olhos. Em silencio, pediu a Deus por todos.



Ontem comprou uma bicicleta... achava engraçado agora andar em um objeto de duas rodas em que usasse as pernas e não as mãos....seguiu rindo...até o fim de semana, compraria um skate.



Pensando bem... melhor deixar para lá o skate..
-------------------------------------------------------------------------------------------------------
Até hoje os médicos não conseguiram explicar que poderoso efeito, teve a adrenalina nos mecanismos nervosos de Vinicius. Uma outra bateria de exames foi feita e nada se constatou de diferente. Em horas extremas, dizem que o corpo humano adquire velocidade, força, equilibrio acima das médias convencionais.

 Oque é a fé, e que tipo de coisa pode se fazer para quem tem fé absoluta ?

  A resposta ?

   Milagres !



domingo, 11 de setembro de 2011

O combate da alvorada


Era o ano 300 de nosso senhor, sendo a segunda campanha que fazíamos para salvar Jerusalém das mãos dos impuros. Éramos em 1500 homens, sendo 500 cavaleiros, e mil soldados de infantaria e carregadores de provisão.

O ataque de madrugada a nosso acampamento, mostra da covardia e astúcia por parte dos mouros, mesmo assim, não nos deixamos abater e prosseguimos em combate, onde foi o espanto de nossos inimigos, ao notar que ao contrario de seus prováveis planos, sobrevivemos em número e coragem. Porém, com a chegada da segunda tropa dos incrédulos de Cristo, também fomos abatidos em quantidade maior. 

Ao final da noite sobreviveram apenas dois homens, cada um de sua respectiva fé, eu cristão e meu oponente a alguns metros. 

O sol começava a despontar, e nos olhávamos de longe. Todas as minhas lembranças do passado começaram por passar a minha mente, desde meu jovem treinamento com um dos melhores espadachins do rei da Bretanha, até a despedida da duquesa de Hornia. Pensava em todos os erros, em tudo que poderia ter feito, começando por dizer que a amava, e que atrás da minha indiferença, havia apenas um amor tão forte como o juízo final. 

Meu inimigo me fitava de longe e na sua mão uma espada diferente das dos demais guerreiros de seu clã, que como eu, deve ter sido treinado diferenciadamente em artes de esgrima, pois do contrario não estaria em minha companhia, neste bosque, neste momento. 

Sei que um homem de guerra não sobrevive apenas de esgrima, sendo assim compilei em meus pensamentos que seu senso de honra deveria ser apurado. Este homem deve ter a perspicácia de uma cobra, e a humildade de um pombo. E se este homem é meu único oponente entre um exercito de mil homens, ele merece meu respeito.

Seguro com firmeza a espada, e meu oponente ao ver tal movimento, também cerra seu punho.
Olhava-me de modo diferente, era se como eu me visse por seus olhos. Assim sendo, acredito que também me admirava e me respeitava por ser seu único rival. E apesar de culturas, de mundos e de experiências tão divergentes, ali estavam dois irmãos de alma, habilidade e honra.

Ao correr em sua direção, em movimentos rápidos e calculados, tocamos nossas espadas com violência e rigidez. Nos debatíamos, e nos feriamos igualmente, como se lutássemos contra nós mesmos em um espelho de reflexos vivos. Era para isso que nascemos, era para isso que treinamos, para encontrar na força do semelhante, a honra de merecer o bom combate.

Ambos caímos, e em um tempo de reflexão, novamente nos olhamos.
Havia muito sangue em suas vestes, que aparecia por demais mostrando seu ferimento, o que para um cavaleiro bem treinado, se mostra vantagem. Em mim havia também tal ferimento na região do peito, mas o peitoral de armadura me escondia, e assim havia a ilusão da vantagem sobre meu inimigo.

Nessa hora me levantei e tirei meu peitoral. E ele pode notar o ferimento em meu peito.

De que vale uma vitoria sobre um inimigo formidável, sem a honra de dizer que lutamos de igual para igual, porque era exatamente o que éramos ali, Iguais. Em um gesto nobre, ele me cumprimentou a distancia, com uma reverência característica de seu povo, e eu o saudei com a cabeça em um leve movimento, e assim voltamos a empunhar nossas espadas, sem esquecer quem éramos e porque estávamos ali.

Caminho agora em direção deste homem, e ele também vem em minha direção. 
Nos nossos olhos não há nem medo nem desilusão, ambos entendíamos que a força do tempo limparia todo aquele sangue, e que talvez em outro mundo, eu pedisse ao senhor por aquele guerreiro, e ele pediria a Allah por mim, e que na plena misericórdia de ambos, aquele duelo sagrado das montanhas, ficasse registrado nas areias do tempo, para sempre, nem que fosse somente aos nossos corações.

 Eis que estamos no ano 300 de nosso senhor Jesus Cristo, e que ele nos conceda a vitória, dentro de sua permissão, na conquista de nossa querida e amada Jerusalém, assim vós despeço, amém.