quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Sobre meu inimigo.



                                                      (Foto: Divulgação Internet)


Ao fazer meus oito anos, lembro que minha avó tinha me dado uma lancheira do Batman. E eu estava muito feliz com aquela lancheira. Porém, ao chegar na escola, César Augusto, um garoto um pouco mais velho, alto e forte, não só a tomou, como comeu o meu lanche. Com uma ameaça em tom baixo, ele sempre terminava o dia:

- Se contar para alguém, coloco sua fuça pra dentro.

E foi assim, que minha lancheira do Batman se foi. Ao chegar em casa, apanhei um pouco mais da velha, por ter dito perder o presente. Não tinha coragem de dizer que fui tomado, porque isso era mais vergonha ainda.

César Augusto, era a primeira pessoa da qual me lembro sentir ódio mortal, daqueles de desejar que a pessoa exploda,como em um desenho animado, ou seja, tinha ele como meu primeiro grande inimigo.

Alguns anos depois, ao entrar no meu primeiro emprego registrado,como office-boy de uma empresa de contabilidade, os outros boys se incomodavam com minha dedicação ao aprender as coisas com meu supervisor. Lembro de arquivos importantes que ficavam em minha responsabilidade, que simplesmente desapareciam dos malotes da empresa, sem justificativa nenhuma. Lógico que meu chefe não queria saber, e mesmo com toda minha dedicação ao trabalho, fui desligado. Tarde demais para perceber. Eu também tinha inimigos no trabalho.

Com a turma da adolescência vivíamos experiências bacanas, saiamos muito, e nos divertíamos. Era uma galera bem Rock and Roll. Tinha a Erica, que era uma graça, e eu estava loucamente afim. Só contei para um amigo, o Eduardo. Gente boa, amigão.

Um dia notei que ela mal me reparava,apesar de nossa aproximação, e ao perguntar para outra amiga, fiquei sabendo que depois de uma conversa que ela teve com o Eduardo, que não queria nem saber mais de olhar para minha cara. Até hoje não sei exatamente o que ele disse para ela, mas sei que depois de dois meses, eles estavam juntos. Descobri então um novo tipo de inimigo, talvez um dos piores...o amigo falso.

Ao terminar meu curso de radiologia, tinha de entregar os documentos para o orgão fiscalizador até o dia 18 de Setembro, e estaria empregado na empresa de um amigo até janeiro. Isso não era um problema, o problema era saber disso no dia 17, as 18:00 horas, em decorrência do atraso dos correios por conta de uma greve. No dia seguinte faltei ao emprego e corri atrás da papelada mas estava gripado, e muito doente.

Ao sair naquele dia, apesar do Sol que fazia, no fim da tarde veio uma chuva, que não só molhou os documentos, mas atrasou o trânsito em São Paulo, fazendo que eu não chegasse em tempo.

Resultado; tive de esperar o recesso de fim de ano do CRTR e pegar a minha habilitação de Tecnólogo seis meses depois, isso claro, perdendo a chance de trabalhar na ótima clínica indicada por um colega. Ainda tomei advertência no trabalho por ter faltado. O tempo e o espaço também eram inimigos. Era como se uma força maligna sobrenatural agisse, para que eu não conquistasse meus objetivos, sempre presente entre pessoas e coisas.

Todas as grandes religiões do planeta, tem relatos sobre o que seria em síntese um inimigo.
O significado de "inimigo" no dicionário seria: Que odeia alguém, que procura prejudicá-lo.
Também nas religiões, onde geralmente são procurados, eles tem vários nomes: No judaísmo ele se chama Heilel Ben-Shahar, no cristianismo é conhecido como Lúcifer, no islã, Iblis e no budismo Mara.

Quando a zica chegava em alto nível, sempre tentei prevenir ou remediar os ataques deste suposto inimigo, em suas formas sobrenaturais ou físicas. Simpatias, auto-flagelações, orações e ofertas de donativos para templos que lutam com os oponentes para você, ou fingem que lutam para ganhar sua grana. Ou seja alguns dos quais você pode procurar para acabar com os seus supostos inimigos, podem se tornar outros inimigos. E com tantos fracassos e problemas, resolvi parar de lutar ou tentar me esquivar, e com a maturidade cheguei a outra importante reflexão:  Devia aprender de forma racional a enxergar o verdadeiro oponente que me afligia.

Foi ai que entendi que César augusto não era meu inimigo, era só uma criança sem amigos, isolada que ficava no canto da quadra, querendo atenção. Os Boys da empresa de contabilidade não eram malignos como eu pensava, eram apenas garotos frustrados por não terem tantas oportunidades como eu tive na época. Eduardo, era um cara apaixonado por uma garota, que lutou com mais garra que eu pelo que queria. Não existia essa de chover quando eu saia, não procurei os documentos quando eles chegaram atrasados, apenas reclamei quando chegaram. Sendo assim,o que era esse azar, esse inimigo que me rondava, já que todas as perguntas tinham sido reformuladas?

Era uma resposta muito simples, mas difícil de aceitar.
O problema era eu.

Ao ver o lado negativo das pessoas, em vez de tentar achar uma explicação cabível para algumas desavenças, acabava criando as situações incômodas. Ou seja, minha falta de atitude em ver que algumas coisas precisam de ação e não observação, só me faziam vacilar e colocar a culpa nos outros.

Ver a culpa nos outros é bem mais fácil. Muitos fazem isso, e quando dizemos que muitos fazem isso, não confessamos a nós mesmos, que parte de nossos fracassos e nossos problemas, tem origem apenas em nossas atitudes e nas nossas escolhas. Quando nos frustramos, e nossos planos não dão certo, o alvo passa a ser as pessoas ao redor.O inferno são os outros, pensamos. Mas esse é um pensamento equivocado.

Então, passei a fazer um exercício. Quando penso rapidamente que tal pessoa quer me prejudicar, reflito de verdade, sempre me perguntando se não houve apenas um mal entendido. Não penso mais em situações que dão errado, não culpo o tempo, o vento a globo ou o governo, sei que sou o único responsável pela minha vida e tento não esquecer desse fato. Hoje não carrego patuás da sorte como já carreguei, nem crucifixo.

 Não acredito mais na tal primeira impressão. Penso que todo dia é dia de remediar, de tomar as rédeas, de tentar de novo. Acredito no erro como professor, como meio de aprendizado. Então se você que lê esse texto agora, já me teve como inimigo, tem a oportunidade extraordinária de arrumar um amigo novo. Convido  a todos os outros que também puderam ler, a tentar uma reaproximação de pessoas que um dia foram queridas e hoje estão distantes, deixando outra pergunta:

Porque não?


Um abraço e até a próxima postagem.

sábado, 31 de março de 2012

Praça Por do Sol

A praça estava cheia, era 05:38 da manhã, quando ele tentou novamente. Aproximou-se devagar, e, vencendo sua timidez, tocou levemente sua mão. Ela esquivou, cruzou os braços, olhou para ele e deu um sorriso sem graça. O Sol começou a aparecer e as pessoas que trabalhavam na região de Pinheiros, paravam para assistir. Era lindo, por isso o nome da praça era Por do Sol.

                                                                                (Foto: Valéria Gonçalves)

Depois de uma noite regada a Rock and Roll, eles estavam exaustos. Já fazia um ano que saiam, sempre como amigos. Ele sempre tentou, sabia que a amava e estaria disposto a esperar. Ela nunca teve dúvidas de seus sentimentos. Não sentia o mesmo afeto. Sempre com suas saídas estratégicas, conseguia enrolar, para não ficar com o amigo, que sempre tentou um relacionamento.

Certa vez, pensou se deveria ficar com ele, mas quando se olhava no espelho, pensava: mereço coisa melhor. Era jovem e bonita, e ele, um cara simples demais, sem muitas ambições, não era bonito suficiente, não o suficiente para que fosse seu namorado. Seria como um eterno amigo, só isso. Quem poderia julgar? Seria errado querer alguém melhor? 

Para ela não.

O tempo passou, já fazia um mês que ele não ligava. Na hora do almoço, saiu do serviço, pegou o celular:

- Oi você ta bem?

-To sim, to legal, e você? – Ele disse

Conversaram um pouco e logo ele desligou. Agora que ela sabia que tudo estava bem, ouvindo sua voz por um instante, continuou com sua vida. Sem ele por perto as baladas eram mais divertidas. Conhecia uns caras interessantes, bonitos, sarados e estabelecidos. Dormia com um, com outro, ignorando o fato de serem horríveis de cama, ou estúpidos. O importante é que todos os homens que passaram por ela naquele período eram semelhantes. Pessoas com quem ela sempre sonhou se envolver.

 Mas todos fugiam antes de chegar o café do hotel, e, ignoravam as ligações no dia seguinte. Havia uma certa mágoa naqueles momentos, mas para ela tudo bem. Tem alguém legal me esperando por ai – ela pensava.

Com os dias passando, sentiu falta dele novamente. Marcou uma balada, estava com saudades da companhia. Precisava se sentir desejada, querida:

-Você vem amanhã?

- Vou...Posso levar uma pessoa?

- Ótimo, pode trazer.

Talvez um amigo, ela pensava. Ele deve ter falado dela. Se fosse bonito e legal, porque não?

As 22:30 se encontraram na Augusta. 
Ele chegou, com uma menina. 

Ela sentiu uma coisa ruim, mas tentou não demonstrar. Esperava por um amigo e de repente, se viu perturbada com aquela garota. Conversavam bastante apesar disso. Ela era professora, e se mostrava bastante receptiva. Ele já não olhava para ela como antes, mas para a menina, tudo era um sorriso. Tentou não pensar nisso. 

Foram para a praça. As pessoas procuravam um lugar para sentar, alguns com cervejas, outros com algo a mais, ninguém se incomodava. Então eles ficaram a uma distância razoável do local onde ela estava:

- Licença um pouco anjo, vou ali com ela e já volto ok?

- Fiquem a vontade!

E assim foi. Ela os observava de longe, mas não se deixava perceber. 
Ele se aproximou da garota, pegando na mão dela. Ela correspondeu e logo se beijaram. Ali naquele local, se deu conta de quanto gostava do cara simples sem ambição. 

Porque algumas mulheres são tão idiotas - ela pensava.

Há pouco tempo atrás, naquele mesmo local, poderia estar ali, sentindo o amor de um homem que estava pronto para aceitá-la. Sentiu vontade de chorar, mas se refez. Depois do nascer do sol, decidiram ir embora. Antes de se despedir, ele a abraçou. Ela sentiu a ternura de um amigo. Apenas um amigo, como ela sempre desejou.

Ao chegar em casa, revia todas as fotos que tinha com ele, sabendo que depois daquele dia, seria difícil ver outra foto nova dos dois juntos. Talvez devesse ligar e dizer o quanto gostava, o quanto estava arrependida, mas logo desistiu.

Quando foi tomar um banho, olhou no espelho e lembrou de um fato. 

Era jovem e bonita. Merecia coisa melhor...

Merecia.









quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

A Crise da Meia Idade


Se olhar no espelho de manhã, nunca foi uma coisa tão estranha. Penteando-me, pude ver um enorme e longo cabelo branco. O detalhe é que eu nunca havia tirado um só cabelo branco da minha cabeça. Talvez, seja essa a maior lembrança do meu aniversário de 30 anos.

Passado alguns meses, uma menina de oito anos, filha de uma vizinha, pediu à bola que caiu por acidente no meu quintal:


- Tio, pega a bola para mim?

- Tio... Como assim “Tio”?

Tudo bem que às vezes exageramos ao errar a idade das pessoas, mas me chamar de tio?, Fiquei pensando se ela não tinha me enxergado direito, mas quando devolvi a bola, houve a confirmação:

- Brigadão Tio.

Quando tomava alguma coisa nos bares, comecei a notar algo, que até aquele momento, era absolutamente incomum para mim. Todo mundo estava tão colorido. Calças vermelhas e a galera com alguns tênis que pareciam infantis. Eu queria comentar com meus amigos, mas, os que eu tinha agora que voltei a estudar, se vestiam todos da mesma forma. Comecei a pensar se a velha camisa preta de roqueiro e meu All Star cano baixo estavam fora de moda. E se eu também estava fora da moda. Isso sem falar no maldito funk carioca, que todo mundo dizia gostar, menos o tiozão aqui.

Minha namorada dizia, que eu me preocupava demais com a minha idade, mas eu percebia que os caras que mexiam com ela, tinham 10 anos a menos que eu. Ela de forma alguma, diria que sou velho demais para ela. Quando eu procurava um estágio, ou prestava um concurso, um dos critérios que mais lia era “até 24 anos”. Ao abrir o álbum de fotos de colegas do primario, percebi que quase todos os meus amigos, já tinham filhos e aparentavam ser bem mais velhos. Isso não me deixava aliviado, pois o fantasma da menininha da bola morava a três casas da minha e sempre me lembrava, que perspectiva é uma coisa individual.

Eu tinha uma casa própria, trabalhava e sempre buscava me aperfeiçoar profissionalmente. Mas ao mesmo tempo, assistia a animes, andava de skate, praticava Swordplay e me acabava nas baladas de sexta. Será que estava na hora de começar a refletir sobre as mudanças e aceitar todos os sinais, que diziam que eu deveria mudar os hábitos, pois não era tão jovem, para continuar fazendo as mesmas coisas?

Deveria me enxergar naquele momento, como um “Homem de meia idade”?

Foi quando indo resolver um problema no fórum da João Mendes, conheci um cara de 23 anos chamado Marcel. Começamos a conversar sobre vários assuntos, mais a maioria deles, era sobre responsabilidade. Ele me mostrou uma agenda, onde marcava os horários para comer, para sair, para estudar e até quanto de bebida podia tomar até se embriagar. Marcel mostrou uma dieta que estava fazendo, onde não se podia comer nada de chocolate e carne vermelha.

Olhando seu terno de linho, quase teve um treco, quando viu um pedaço de lã vermelho na parte posterior do ombro. Tudo parecia tão controlado, tão certinho, que não resisti e perguntei:

- Cara, todo esse controle não te sufoca não?

E com cara de espanto, ele respondeu:
- Não... Sou responsável desde pequeno e sei que o não, é tão importante como o sim. Sou o orgulho da casa, o filho mais querido da minha mãe. Vejo bastante gente fazendo coisa errada e sei que alguns têm sorte de sobreviver. Organização é tudo na vida, concorda?

Concordei para não entrar em outro debate. Cinco minutos com aquele individuo, foi o bastante para perceber, o quanto eu estava sendo idiota comigo mesmo. Entendi que ser velho, era um estado de espírito, pois se um cara de 23 anos poderia ter o cérebro de um aposentado, um cara de 30 poderia fazer o que quisesse. Despedi-me de Marcel, e logo depois ao descer a primeira rua na volta, agradeci a Deus, por me mostrar que ninguém é maduro o bastante, para deixar de fazer o que gosta.

No dia seguinte, enquanto subia a ladeira de skate na mão, pude notar que as pessoas nem ligavam para o fato de um cara de 30 anos, ainda andar de skate. Às vezes nós perdemos muito tempo, tentando pensar no que a sociedade acha de nossos comportamentos e piramos nisso. Coloquei o fone de ouvido e comecei a ouvir “Dani Califórnia” do Red Hot Chili Peppers. Enquanto descia a ladeira, sentia o vento batendo no rosto e era uma sensação maravilhosa. Sabia que continuaria fazendo aquilo. Ainda assistiria muito anime, ainda dançaria muito Rock and Roll e andaria muito de skate, antes de me tornar um Marcel da vida. Todos esses pensamentos me vinham à mente, até eu me espatifar no corsa cinza estacionado no fim da rua.

Com um beiço inchado e um olho roxo, ninguém entendia porque eu ria do meu próprio tombo. As estatísticas diziam que os jovens, costumam ter muito mais acidentes que homens de meia idade.

É verdade. Eu estava ali para comprovar.

Até a próxima postagem.










terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

As Três Sensações

 São Paulo 15 de Fevereiro de 2012 – 11h45min h



Todos os dias quando chego ao escritório, a primeira coisa que eu sempre faço, é olhar para a mesa dela.
Era amedrontador imaginar que a presença daquela mulher me afetava tanto.

A coisa ficou mais complicada, quando que, por decreto da empresa, nossos departamentos estreitaram comunicações. E todo dia, ao levar os malditos relatórios de empreendimentos, manifestava aqueles sintomas.

Começava com o suor frio. Podia sentir a gota gelada descendo pela minha testa, caindo pelo meu rosto. Em seguida, um frio na barriga, algo incomodo, que não tem a ver com dor, mas com o simples receio de estar ali. As pernas começavam a tremer. Tudo que eu podia fazer, era entregar os papéis o mais rápido possível e dizer:

- Bom dia Cecília!

E durante oito meses, isso foi tudo que eu fiz.

Porém aquele dia era especial, tinha resolvido me declarar, e a chamar para sair. Tudo que eu tinha de fazer era caminhar em sua direção e dizer o que sentia de verdade. Sabia que tinha coragem suficiente para isso, e consegui me convencer. Se não me declarasse, me sentiria culpado simplesmente por não saber o resultado. Tinha de  tentar, e naquele mesmo dia.

 Depois do almoço, em um horário em que quase ninguém estava no local, olhei para a frente e lá estava ela, sozinha na maquina de café. Achando que essa foi a melhor oportunidade que poderia ter aparecido, começo a caminhar em sua direção. Coisas do passado começam a passar pela minha cabeça, como em um filme, coisas que não gosto de lembrar...


Cotia 28 de Fevereiro de 1994 – 09h35min h

Carol é a garota mais linda da sala. Assim foi decidido por votação por todos os meninos do terceiro ano, e por mim também. Todos os dias na hora do recreio, eu ficava observando aquela garota loira, imaginando se a gente poderia ver o por do Sol em cima do muro do terreno baldio, na rua do português. Depois eu pegaria em sua mão e a beijaria.

Decidi que depois do hino cantado no pátio, a convidaria para passear comigo. Eu gostava dela desde a segunda série. Enquanto imaginava as várias possibilidades, cheguei à conclusão que tinha de me declarar, mesmo se levasse um fora. No fundo eu não tinha nada a perder, e não saber era pior.

 Cheguei mais cedo, fui com a roupa mais bonita que eu tinha, ensaiei várias vezes. Achava-me preparado. Até o fim da tarde, meu coração dizia que estaríamos de mão dadas em cima do muro da rua do português.

Na hora do intervalo, apesar de demora, não foi difícil encontrá-la. Estava na cantina comprando doces. Esse era o momento oportuno, estava sozinha. Arrumei coragem e comecei caminhar em sua direção.

Nesse mesmo instante, aquelas sensações estranhas começaram a acontecer pela primeira vez; Meu suor estava gelado, meu coração queria pular do meu peito e as pernas ficaram tão bambas, que achei que ia cair. 


Tudo ao mesmo tempo.

Quando estava bem próximo, juntei todas a coragem do mundo e disse:

- Me empresta o catchup?




São Paulo 15 de Fevereiro de 2012 – 11h46min h

E lá estava ela. A coisa mais bela e fantástica que existia no planeta. Cada movimento, como pegar um copo, um talher, era para mim como a sincronia de um balé. Eu a desejava, sabia que tinha uma chance e mesmo com todas as coisas que começava a sentir enquanto caminhava, não deixei de ir em frente. Fiquei com ódio ao lembrar que toda vez que me aproximava de uma mulher, da qual eu não era apaixonado, me comportava como um verdadeiro Don Ruan. Mas toda vez que me apaixonava, ao tentar me aproximar, sempre me sentia e comportava como um verdadeiro idiota. Precisava me livrar desse pensamento...comecei a andar.

 Enquanto me movia, atento para a não perder de vista, me lembrava dos meses de preparação, da terapia, dos vários livros de auto-ajuda e até dos estudos sobre comportamento humano. Dessa vez, eu estava preparado, pronto para aquele estágio, e me sentia confiante...chega de fracassar.

Caminhando, senti a gota descendo, ignorei o fato. Sabia que as palpitações seriam as próximas sensações e também não me concentrei nisso. Eu estava conseguindo, os passos ainda estavam confiantes... mesmo com uma ligeira tremida no joelho, procurei não vacilar e continuei andando.


Parei em sua frente.

Olhei seus olhos, e com todo o sentimento que inundava meu coração naquele momento eu disse:

- Ainda tem café?










Abraço a todos.

domingo, 8 de janeiro de 2012

A Pizza Portuguesa e o Fim do Mundo


Voltando do estágio, paro na banca de jornal e vejo a notícia: “Coréia do Norte ataca EUA com Ogiva nuclear”. Ligo para alguns colegas soldados e pergunto se é verdade, eles não respondem. Dois dias depois os mercados financeiros entram em um colapso e as bolsas caem em todos os países. Os governantes pedem calma, lugares que já eram precários, entram em estado de calamidade pública.


Os EUA, em resposta, decretam guerra a Coréia.  Logo Haeju- P'yŏngyang e Manpo são atingidas por bombas e varridas do país, em conseqüência a ONU se reúne, e dois blocos se dividem entre aliados e inimigos. Convocações começam no Brasil.

Na América latina, mercados e lojas começam a ser saqueados, a crise no pagamento dos funcionários públicos deixa o Chile sem Luz. A Europa se prepara para um ataque em massa, e o Irã declara que também pode usar suas ogivas nucleares se necessário.

Em nova York morrem três milhões de pessoas, vítimas de envenenamento. Um atentado da AL Qaeda, que aproveitava a fragilidade americana. Empresas que tinham investimentos na bolsa de valores decretam falência e multiplica-se o numero de desempregados no país.

Aliados começam a ser atacados com bombas, o Irá declara apoio a Coréia do Norte, e a Coréia do Sul é dizimada em dois ataques. As pessoas começam a fugir para montanhas e encostas, as cidades começam a ficar abandonadas. Aeroportos e portos são destruídos, qualquer tipo de comercio ou navegação fica obstruído. As casas começam a ser invadidas, não só no Brasil, mas em todos os lugares do mundo. Estupros e violência não conseguem mais ser registrados.

Pego o pessoal de casa, saímos de São Paulo e subimos para Minas, a Casa do tio Alberto é bem no meio do mato, logo a melhor solução para minha namorada e irmãs. Pego alguns cachorros e coloco no sitio. Aproveitando um saque a um supermercado de Belo Horizonte eu e meu primo pegamos mantimentos. Chegando a casa, começamos a cavar... Faríamos um bunker em baixo do solo do sitio.

As emissoras de tv começam a ser destruídas, ouvimos noticias de São Paulo por uma rádio pirata. As capitais brasileiras estão em caos, e no mundo algumas já não existem. Suicídios em massa no Japão e Tailândia assustam o resto da população.

Saímos mais uma vez, deixamos nosso tio armado no sitio, e as meninas escondidas no bunker, teríamos de juntar o máximo de alimento possível. Conseguimos alguns frangos de uma fazenda abandonada próxima, pegamos alguns litros de água e voltamos. Ficamos ali durante duas semanas.

Sabíamos que seria impossível viver naquele local durante muito tempo, mas o clima não era o ideal para viagens. O presidente dos EUA é assassinado. As estradas são tomadas por selvagens, que matam os pequenos grupos que se formam para proteger as pessoas que entram em conflito com o exército. Milhões de pessoas morrem no país.

Olhamos o morro e vemos uma multidão subindo a encosta, com facas e martelos em mãos,quando notei que vinham em direção ao sítio,começo a distribuir armas entre meus parentes, e me desespero. 

Quando o primeiro pula o cercado, dou-lhe um tiro na boca, e depois outro... eles se afastam. Logo alguém com uma tocha incendeia uma parte da casa. Digo para alguns primos descerem, que ficaria ali com a arma até todo mundo correr, mas algo me chama a atenção. Uma coisa imensa cai a uns quatro quilômetros dali.

 Vejo um fogo meio acinzentado cobrir a região e alguns cachorros e pessoas sendo desintegrados. Os caras que invadiram o sítio começam a correr, mas não adiantava. A luz chegava muito rápido, fechei meus olhos e senti um calor insuportável. Olhei para trás, mas...



Acordo ofegante. Levanto tomo um copo de água. A gripe ainda não tinha passado, eu estava encharcado de suor. Olho para fora e está um dia lindo de Sol. A vizinha chata com o mesmo cd do Michél Teló. Nada tinha mudado.

Fiquei pensando que realmente uma série de fatores em cadeia poderia destruir o planeta, e ao olhar aquele dia tão lindo, pensei em quanta coisa não valorizamos como família, amigos, natureza. Vida.

Mais de todos os pensamentos ali, uma precaução que deveria sempre tomar: Nunca mais comer pizza portuguesa antes de dormir.

Nunca.