(Foto: Divulgação Internet)
- Se contar para alguém, coloco sua fuça pra dentro.
E foi assim, que minha lancheira do Batman se foi. Ao chegar em casa, apanhei um pouco mais da velha, por ter dito perder o presente. Não tinha coragem de dizer que fui tomado, porque isso era mais vergonha ainda.
César Augusto, era a primeira pessoa da qual me lembro sentir ódio mortal, daqueles de desejar que a pessoa exploda,como em um desenho animado, ou seja, tinha ele como meu primeiro grande inimigo.
Alguns anos depois, ao entrar no meu primeiro emprego registrado,como office-boy de uma empresa de contabilidade, os outros boys se incomodavam com minha dedicação ao aprender as coisas com meu supervisor. Lembro de arquivos importantes que ficavam em minha responsabilidade, que simplesmente desapareciam dos malotes da empresa, sem justificativa nenhuma. Lógico que meu chefe não queria saber, e mesmo com toda minha dedicação ao trabalho, fui desligado. Tarde demais para perceber. Eu também tinha inimigos no trabalho.
Com a turma da adolescência vivíamos experiências bacanas, saiamos muito, e nos divertíamos. Era uma galera bem Rock and Roll. Tinha a Erica, que era uma graça, e eu estava loucamente afim. Só contei para um amigo, o Eduardo. Gente boa, amigão.
Um dia notei que ela mal me reparava,apesar de nossa aproximação, e ao perguntar para outra amiga, fiquei sabendo que depois de uma conversa que ela teve com o Eduardo, que não queria nem saber mais de olhar para minha cara. Até hoje não sei exatamente o que ele disse para ela, mas sei que depois de dois meses, eles estavam juntos. Descobri então um novo tipo de inimigo, talvez um dos piores...o amigo falso.
Ao terminar meu curso de radiologia, tinha de entregar os documentos para o orgão fiscalizador até o dia 18 de Setembro, e estaria empregado na empresa de um amigo até janeiro. Isso não era um problema, o problema era saber disso no dia 17, as 18:00 horas, em decorrência do atraso dos correios por conta de uma greve. No dia seguinte faltei ao emprego e corri atrás da papelada mas estava gripado, e muito doente.
Ao sair naquele dia, apesar do Sol que fazia, no fim da tarde veio uma chuva, que não só molhou os documentos, mas atrasou o trânsito em São Paulo, fazendo que eu não chegasse em tempo.
Resultado; tive de esperar o recesso de fim de ano do CRTR e pegar a minha habilitação de Tecnólogo seis meses depois, isso claro, perdendo a chance de trabalhar na ótima clínica indicada por um colega. Ainda tomei advertência no trabalho por ter faltado. O tempo e o espaço também eram inimigos. Era como se uma força maligna sobrenatural agisse, para que eu não conquistasse meus objetivos, sempre presente entre pessoas e coisas.
Todas as grandes religiões do planeta, tem relatos sobre o que seria em síntese um inimigo.
O significado de "inimigo" no dicionário seria: Que odeia alguém, que procura prejudicá-lo.
Também nas religiões, onde geralmente são procurados, eles tem vários nomes: No judaísmo ele se chama Heilel Ben-Shahar, no cristianismo é conhecido como Lúcifer, no islã, Iblis e no budismo Mara.
Quando a zica chegava em alto nível, sempre tentei prevenir ou remediar os ataques deste suposto inimigo, em suas formas sobrenaturais ou físicas. Simpatias, auto-flagelações, orações e ofertas de donativos para templos que lutam com os oponentes para você, ou fingem que lutam para ganhar sua grana. Ou seja alguns dos quais você pode procurar para acabar com os seus supostos inimigos, podem se tornar outros inimigos. E com tantos fracassos e problemas, resolvi parar de lutar ou tentar me esquivar, e com a maturidade cheguei a outra importante reflexão: Devia aprender de forma racional a enxergar o verdadeiro oponente que me afligia.
Foi ai que entendi que César augusto não era meu inimigo, era só uma criança sem amigos, isolada que ficava no canto da quadra, querendo atenção. Os Boys da empresa de contabilidade não eram malignos como eu pensava, eram apenas garotos frustrados por não terem tantas oportunidades como eu tive na época. Eduardo, era um cara apaixonado por uma garota, que lutou com mais garra que eu pelo que queria. Não existia essa de chover quando eu saia, não procurei os documentos quando eles chegaram atrasados, apenas reclamei quando chegaram. Sendo assim,o que era esse azar, esse inimigo que me rondava, já que todas as perguntas tinham sido reformuladas?
Era uma resposta muito simples, mas difícil de aceitar.
O problema era eu.
Ao ver o lado negativo das pessoas, em vez de tentar achar uma explicação cabível para algumas desavenças, acabava criando as situações incômodas. Ou seja, minha falta de atitude em ver que algumas coisas precisam de ação e não observação, só me faziam vacilar e colocar a culpa nos outros.
Ver a culpa nos outros é bem mais fácil. Muitos fazem isso, e quando dizemos que muitos fazem isso, não confessamos a nós mesmos, que parte de nossos fracassos e nossos problemas, tem origem apenas em nossas atitudes e nas nossas escolhas. Quando nos frustramos, e nossos planos não dão certo, o alvo passa a ser as pessoas ao redor.O inferno são os outros, pensamos. Mas esse é um pensamento equivocado.
Então, passei a fazer um exercício. Quando penso rapidamente que tal pessoa quer me prejudicar, reflito de verdade, sempre me perguntando se não houve apenas um mal entendido. Não penso mais em situações que dão errado, não culpo o tempo, o vento a globo ou o governo, sei que sou o único responsável pela minha vida e tento não esquecer desse fato. Hoje não carrego patuás da sorte como já carreguei, nem crucifixo.
Não acredito mais na tal primeira impressão. Penso que todo dia é dia de remediar, de tomar as rédeas, de tentar de novo. Acredito no erro como professor, como meio de aprendizado. Então se você que lê esse texto agora, já me teve como inimigo, tem a oportunidade extraordinária de arrumar um amigo novo. Convido a todos os outros que também puderam ler, a tentar uma reaproximação de pessoas que um dia foram queridas e hoje estão distantes, deixando outra pergunta:
Porque não?
Um abraço e até a próxima postagem.