quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

A Crise da Meia Idade


Se olhar no espelho de manhã, nunca foi uma coisa tão estranha. Penteando-me, pude ver um enorme e longo cabelo branco. O detalhe é que eu nunca havia tirado um só cabelo branco da minha cabeça. Talvez, seja essa a maior lembrança do meu aniversário de 30 anos.

Passado alguns meses, uma menina de oito anos, filha de uma vizinha, pediu à bola que caiu por acidente no meu quintal:


- Tio, pega a bola para mim?

- Tio... Como assim “Tio”?

Tudo bem que às vezes exageramos ao errar a idade das pessoas, mas me chamar de tio?, Fiquei pensando se ela não tinha me enxergado direito, mas quando devolvi a bola, houve a confirmação:

- Brigadão Tio.

Quando tomava alguma coisa nos bares, comecei a notar algo, que até aquele momento, era absolutamente incomum para mim. Todo mundo estava tão colorido. Calças vermelhas e a galera com alguns tênis que pareciam infantis. Eu queria comentar com meus amigos, mas, os que eu tinha agora que voltei a estudar, se vestiam todos da mesma forma. Comecei a pensar se a velha camisa preta de roqueiro e meu All Star cano baixo estavam fora de moda. E se eu também estava fora da moda. Isso sem falar no maldito funk carioca, que todo mundo dizia gostar, menos o tiozão aqui.

Minha namorada dizia, que eu me preocupava demais com a minha idade, mas eu percebia que os caras que mexiam com ela, tinham 10 anos a menos que eu. Ela de forma alguma, diria que sou velho demais para ela. Quando eu procurava um estágio, ou prestava um concurso, um dos critérios que mais lia era “até 24 anos”. Ao abrir o álbum de fotos de colegas do primario, percebi que quase todos os meus amigos, já tinham filhos e aparentavam ser bem mais velhos. Isso não me deixava aliviado, pois o fantasma da menininha da bola morava a três casas da minha e sempre me lembrava, que perspectiva é uma coisa individual.

Eu tinha uma casa própria, trabalhava e sempre buscava me aperfeiçoar profissionalmente. Mas ao mesmo tempo, assistia a animes, andava de skate, praticava Swordplay e me acabava nas baladas de sexta. Será que estava na hora de começar a refletir sobre as mudanças e aceitar todos os sinais, que diziam que eu deveria mudar os hábitos, pois não era tão jovem, para continuar fazendo as mesmas coisas?

Deveria me enxergar naquele momento, como um “Homem de meia idade”?

Foi quando indo resolver um problema no fórum da João Mendes, conheci um cara de 23 anos chamado Marcel. Começamos a conversar sobre vários assuntos, mais a maioria deles, era sobre responsabilidade. Ele me mostrou uma agenda, onde marcava os horários para comer, para sair, para estudar e até quanto de bebida podia tomar até se embriagar. Marcel mostrou uma dieta que estava fazendo, onde não se podia comer nada de chocolate e carne vermelha.

Olhando seu terno de linho, quase teve um treco, quando viu um pedaço de lã vermelho na parte posterior do ombro. Tudo parecia tão controlado, tão certinho, que não resisti e perguntei:

- Cara, todo esse controle não te sufoca não?

E com cara de espanto, ele respondeu:
- Não... Sou responsável desde pequeno e sei que o não, é tão importante como o sim. Sou o orgulho da casa, o filho mais querido da minha mãe. Vejo bastante gente fazendo coisa errada e sei que alguns têm sorte de sobreviver. Organização é tudo na vida, concorda?

Concordei para não entrar em outro debate. Cinco minutos com aquele individuo, foi o bastante para perceber, o quanto eu estava sendo idiota comigo mesmo. Entendi que ser velho, era um estado de espírito, pois se um cara de 23 anos poderia ter o cérebro de um aposentado, um cara de 30 poderia fazer o que quisesse. Despedi-me de Marcel, e logo depois ao descer a primeira rua na volta, agradeci a Deus, por me mostrar que ninguém é maduro o bastante, para deixar de fazer o que gosta.

No dia seguinte, enquanto subia a ladeira de skate na mão, pude notar que as pessoas nem ligavam para o fato de um cara de 30 anos, ainda andar de skate. Às vezes nós perdemos muito tempo, tentando pensar no que a sociedade acha de nossos comportamentos e piramos nisso. Coloquei o fone de ouvido e comecei a ouvir “Dani Califórnia” do Red Hot Chili Peppers. Enquanto descia a ladeira, sentia o vento batendo no rosto e era uma sensação maravilhosa. Sabia que continuaria fazendo aquilo. Ainda assistiria muito anime, ainda dançaria muito Rock and Roll e andaria muito de skate, antes de me tornar um Marcel da vida. Todos esses pensamentos me vinham à mente, até eu me espatifar no corsa cinza estacionado no fim da rua.

Com um beiço inchado e um olho roxo, ninguém entendia porque eu ria do meu próprio tombo. As estatísticas diziam que os jovens, costumam ter muito mais acidentes que homens de meia idade.

É verdade. Eu estava ali para comprovar.

Até a próxima postagem.










terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

As Três Sensações

 São Paulo 15 de Fevereiro de 2012 – 11h45min h



Todos os dias quando chego ao escritório, a primeira coisa que eu sempre faço, é olhar para a mesa dela.
Era amedrontador imaginar que a presença daquela mulher me afetava tanto.

A coisa ficou mais complicada, quando que, por decreto da empresa, nossos departamentos estreitaram comunicações. E todo dia, ao levar os malditos relatórios de empreendimentos, manifestava aqueles sintomas.

Começava com o suor frio. Podia sentir a gota gelada descendo pela minha testa, caindo pelo meu rosto. Em seguida, um frio na barriga, algo incomodo, que não tem a ver com dor, mas com o simples receio de estar ali. As pernas começavam a tremer. Tudo que eu podia fazer, era entregar os papéis o mais rápido possível e dizer:

- Bom dia Cecília!

E durante oito meses, isso foi tudo que eu fiz.

Porém aquele dia era especial, tinha resolvido me declarar, e a chamar para sair. Tudo que eu tinha de fazer era caminhar em sua direção e dizer o que sentia de verdade. Sabia que tinha coragem suficiente para isso, e consegui me convencer. Se não me declarasse, me sentiria culpado simplesmente por não saber o resultado. Tinha de  tentar, e naquele mesmo dia.

 Depois do almoço, em um horário em que quase ninguém estava no local, olhei para a frente e lá estava ela, sozinha na maquina de café. Achando que essa foi a melhor oportunidade que poderia ter aparecido, começo a caminhar em sua direção. Coisas do passado começam a passar pela minha cabeça, como em um filme, coisas que não gosto de lembrar...


Cotia 28 de Fevereiro de 1994 – 09h35min h

Carol é a garota mais linda da sala. Assim foi decidido por votação por todos os meninos do terceiro ano, e por mim também. Todos os dias na hora do recreio, eu ficava observando aquela garota loira, imaginando se a gente poderia ver o por do Sol em cima do muro do terreno baldio, na rua do português. Depois eu pegaria em sua mão e a beijaria.

Decidi que depois do hino cantado no pátio, a convidaria para passear comigo. Eu gostava dela desde a segunda série. Enquanto imaginava as várias possibilidades, cheguei à conclusão que tinha de me declarar, mesmo se levasse um fora. No fundo eu não tinha nada a perder, e não saber era pior.

 Cheguei mais cedo, fui com a roupa mais bonita que eu tinha, ensaiei várias vezes. Achava-me preparado. Até o fim da tarde, meu coração dizia que estaríamos de mão dadas em cima do muro da rua do português.

Na hora do intervalo, apesar de demora, não foi difícil encontrá-la. Estava na cantina comprando doces. Esse era o momento oportuno, estava sozinha. Arrumei coragem e comecei caminhar em sua direção.

Nesse mesmo instante, aquelas sensações estranhas começaram a acontecer pela primeira vez; Meu suor estava gelado, meu coração queria pular do meu peito e as pernas ficaram tão bambas, que achei que ia cair. 


Tudo ao mesmo tempo.

Quando estava bem próximo, juntei todas a coragem do mundo e disse:

- Me empresta o catchup?




São Paulo 15 de Fevereiro de 2012 – 11h46min h

E lá estava ela. A coisa mais bela e fantástica que existia no planeta. Cada movimento, como pegar um copo, um talher, era para mim como a sincronia de um balé. Eu a desejava, sabia que tinha uma chance e mesmo com todas as coisas que começava a sentir enquanto caminhava, não deixei de ir em frente. Fiquei com ódio ao lembrar que toda vez que me aproximava de uma mulher, da qual eu não era apaixonado, me comportava como um verdadeiro Don Ruan. Mas toda vez que me apaixonava, ao tentar me aproximar, sempre me sentia e comportava como um verdadeiro idiota. Precisava me livrar desse pensamento...comecei a andar.

 Enquanto me movia, atento para a não perder de vista, me lembrava dos meses de preparação, da terapia, dos vários livros de auto-ajuda e até dos estudos sobre comportamento humano. Dessa vez, eu estava preparado, pronto para aquele estágio, e me sentia confiante...chega de fracassar.

Caminhando, senti a gota descendo, ignorei o fato. Sabia que as palpitações seriam as próximas sensações e também não me concentrei nisso. Eu estava conseguindo, os passos ainda estavam confiantes... mesmo com uma ligeira tremida no joelho, procurei não vacilar e continuei andando.


Parei em sua frente.

Olhei seus olhos, e com todo o sentimento que inundava meu coração naquele momento eu disse:

- Ainda tem café?










Abraço a todos.