sábado, 31 de março de 2012

Praça Por do Sol

A praça estava cheia, era 05:38 da manhã, quando ele tentou novamente. Aproximou-se devagar, e, vencendo sua timidez, tocou levemente sua mão. Ela esquivou, cruzou os braços, olhou para ele e deu um sorriso sem graça. O Sol começou a aparecer e as pessoas que trabalhavam na região de Pinheiros, paravam para assistir. Era lindo, por isso o nome da praça era Por do Sol.

                                                                                (Foto: Valéria Gonçalves)

Depois de uma noite regada a Rock and Roll, eles estavam exaustos. Já fazia um ano que saiam, sempre como amigos. Ele sempre tentou, sabia que a amava e estaria disposto a esperar. Ela nunca teve dúvidas de seus sentimentos. Não sentia o mesmo afeto. Sempre com suas saídas estratégicas, conseguia enrolar, para não ficar com o amigo, que sempre tentou um relacionamento.

Certa vez, pensou se deveria ficar com ele, mas quando se olhava no espelho, pensava: mereço coisa melhor. Era jovem e bonita, e ele, um cara simples demais, sem muitas ambições, não era bonito suficiente, não o suficiente para que fosse seu namorado. Seria como um eterno amigo, só isso. Quem poderia julgar? Seria errado querer alguém melhor? 

Para ela não.

O tempo passou, já fazia um mês que ele não ligava. Na hora do almoço, saiu do serviço, pegou o celular:

- Oi você ta bem?

-To sim, to legal, e você? – Ele disse

Conversaram um pouco e logo ele desligou. Agora que ela sabia que tudo estava bem, ouvindo sua voz por um instante, continuou com sua vida. Sem ele por perto as baladas eram mais divertidas. Conhecia uns caras interessantes, bonitos, sarados e estabelecidos. Dormia com um, com outro, ignorando o fato de serem horríveis de cama, ou estúpidos. O importante é que todos os homens que passaram por ela naquele período eram semelhantes. Pessoas com quem ela sempre sonhou se envolver.

 Mas todos fugiam antes de chegar o café do hotel, e, ignoravam as ligações no dia seguinte. Havia uma certa mágoa naqueles momentos, mas para ela tudo bem. Tem alguém legal me esperando por ai – ela pensava.

Com os dias passando, sentiu falta dele novamente. Marcou uma balada, estava com saudades da companhia. Precisava se sentir desejada, querida:

-Você vem amanhã?

- Vou...Posso levar uma pessoa?

- Ótimo, pode trazer.

Talvez um amigo, ela pensava. Ele deve ter falado dela. Se fosse bonito e legal, porque não?

As 22:30 se encontraram na Augusta. 
Ele chegou, com uma menina. 

Ela sentiu uma coisa ruim, mas tentou não demonstrar. Esperava por um amigo e de repente, se viu perturbada com aquela garota. Conversavam bastante apesar disso. Ela era professora, e se mostrava bastante receptiva. Ele já não olhava para ela como antes, mas para a menina, tudo era um sorriso. Tentou não pensar nisso. 

Foram para a praça. As pessoas procuravam um lugar para sentar, alguns com cervejas, outros com algo a mais, ninguém se incomodava. Então eles ficaram a uma distância razoável do local onde ela estava:

- Licença um pouco anjo, vou ali com ela e já volto ok?

- Fiquem a vontade!

E assim foi. Ela os observava de longe, mas não se deixava perceber. 
Ele se aproximou da garota, pegando na mão dela. Ela correspondeu e logo se beijaram. Ali naquele local, se deu conta de quanto gostava do cara simples sem ambição. 

Porque algumas mulheres são tão idiotas - ela pensava.

Há pouco tempo atrás, naquele mesmo local, poderia estar ali, sentindo o amor de um homem que estava pronto para aceitá-la. Sentiu vontade de chorar, mas se refez. Depois do nascer do sol, decidiram ir embora. Antes de se despedir, ele a abraçou. Ela sentiu a ternura de um amigo. Apenas um amigo, como ela sempre desejou.

Ao chegar em casa, revia todas as fotos que tinha com ele, sabendo que depois daquele dia, seria difícil ver outra foto nova dos dois juntos. Talvez devesse ligar e dizer o quanto gostava, o quanto estava arrependida, mas logo desistiu.

Quando foi tomar um banho, olhou no espelho e lembrou de um fato. 

Era jovem e bonita. Merecia coisa melhor...

Merecia.