segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Ping-Pong no "Histórias de Emilia"

Depois de um maravilhoso 4x4 , fui novamente chamado pela minha amiga Emiliana, para um papo reto, sem medida e frescura, onde os meus camaradas vão poder saber um pouquinho mais de mim. Como sempre convido aos meus amigos de blogosfera para que visitem,  pois o que seria de mim sem vocês, as pessoas maravilhosas que veem aqui e deixam sua contribuição no meu espaço.

Sem mais...obrigado pelos carinhos e visitas frequentes ao Crônicas !
Espero vocês lá na Emiliana !

Segue o link:
 http://historiasdeemilia.blogspot.com/









quinta-feira, 20 de outubro de 2011

O Tempo

O tempo sabe ser bom, o tempo é largo, o tempo é grande, o tempo é generoso, o tempo é farto é sempre abundante em suas entregas:


 Amaina nossas aflições, dilui a tensão dos preocupados, suspende a dor aos torturados, traz a luz aos que vivem nas trevas, o ânimo aos indiferentes, o conforto aos que se lamentam, a alegria aos homens tristes, o consolo aos desamparados, o relaxamento aos que se contorcem, a serenidade aos inquietos, o repouso aos sem sossego, a paz aos intranqüilos, a umidade às almas secas; 


O Tempo satisfaz os apetites moderados, sacia a sede aos sedentos, a fome aos famintos, dá a seiva aos que necessitam dela, é capaz ainda de distrair a todos com seus brinquedos; em tudo ele nos atende, mas as dores da nossa vontade só chegarão ao santo alívio seguindo esta lei inexorável: a obediência absoluta à soberania incontestável do tempo, não se erguendo jamais o gesto neste culto raro; é através da paciência que nos purificamos, em águas mansas é que devemos nos banhar, encharcando nossos corpos de instantes apaziguados, fruindo religiosamente a embriaguez da espera no consumo sem descanso desse fruto universal, inesgotável


Sorve  até a exaustão o caldo contido em cada bago, pois só nesse exercício é que amadurecemos, construindo com disciplina a nossa própria imortalidade, forjando, se formos sábios, um paraíso de brandas fantasias onde teria sido um reino penoso de expectativas e suas dores(..)`




(Trecho de Lavoura Arcaica - o Tempo  – Raduan Nassar)

sábado, 15 de outubro de 2011

Owens


  
Berlim 1936 – 11h36min


Quando entrei no estádio, fiquei pasmo com a quantidade de pessoas, era maravilhoso ver tanta gente, e como atleta, aquilo mexeu comigo de uma forma a qual não conseguia explicar. E mesmo que todos quisessem minha derrota naquele lugar, eu não poderia de forma nenhuma negar a sua beleza.

Vi os braços estendidos, e aquele homem entrar pela lateral. Era pequeno e particularmente feio, comparado a outros brancos que estavam ali, ao ver isso me perguntei qual o motivo para se achar superior a alguém.
Fui até a linha de saída, chequei meus tênis e alonguei. Antes do tiro de partida, as lembranças de Oakville me tomaram, e tão rápido como o disparo, viajei no tempo.

Alabama 1927

Era difícil acompanhar minha mãe, mas toda a vez que conseguíamos um médico, tínhamos de correr para não ficar por ultimo nas filas. Os negros só eram atendidos por negros, e um único médico, que vinha de Ohio uma vez a cada sete meses, respondeu a suas cartas dizendo que poderia me atender, ao passar por Oakville.
Tão logo cumpriu sua promessa, disse a minha mãe:

- Ele tem pneumonia crônica, deve evitar a fadiga, e se alimentar bem. Não será uma pessoa saudável. Sinto muito.

E assim eu pude ver os olhos de minha mãe cheios de lagrimas. Ela sabia que um negro que tivesse condições físicas ruins, não teria muita chance naquela sociedade tão preconceituosa. Acabaria como um mordomo de algum rico fazendeiro, lacaio de casa, ou jardineiro, já que não teria fôlego para trabalhar nos campos de algodão. Com o passar do tempo, comecei a me odiar. Me odiar pela minha incapacidade, pela minha vida tão ingrata, e tão logo via minha mãe saindo para trabalhar, fazia justamente o que o médico me proibia, corria até faltar o fôlego. Quem sabe assim poderia morrer e já não seria mais um fardo para ninguém.

Embora passasse mal constantemente por causa das corridas, não era o bastante para atingir meu objetivo. Comecei a acelerar e correr mais, pensando que uma hora meu corpo não aguentaria até eu conseguir morrer.Mas acontecia justamente o contrario.Comecei a respirar melhor, e ter mais fôlego.

Um dia os cavalos do senhor Stanford passaram a minha frente, e não pude conter a ideia que poderia os ultrapassar. E eu os ultrapassei. Comecei a correr profissionalmente,e de escola em escola, minha fama correu pela cidade. Isso me ajudou a entrar na universidade, e quando vi, era atleta federado e iria para as olimpíadas de Berlim representar os Estados Unidos da América. Era a maior conquista de um negro na história da minha cidade. 
Eu estava muito feliz.

Berlim 1936 – 11h42min

Ao soar o disparo, saímos todos da linha ao mesmo tempo. Eu podia sentir a respiração de meus oponentes. Estávamos muito próximos e éramos todos atletas de altíssima categoria, todos ali tinham um sonho, todos ali passaram dificuldades para chegar a aquele objetivo, e todos lutariam até o fim para conquistá-lo. Porém além dos sonhos, havia outra coisa importante para se fazer naquele evento. 

Um homem surgiu na Alemanha disse que os brancos são superiores, que são melhores e que tem o direito de exterminar toda e qualquer raça que não seja a deles. Muitos estavam morrendo a favor de uma ideia tola e se eu, um negro, perdesse aquele dia, comprovaria que realmente aqueles homens poderiam estar certos. Eu já tinha me acostumado a sofrer o preconceito, de ser chamado de esgoto, de marginal. Mas eu havia superado tudo isso antes. Ao contrario do que pensavam eles, eu não tinha medo.

Comecei a correr com mais força, como se quisesse morrer quando criança. Logo tudo ficou passando lentamente, e eu não ouvia mais os ruídos, nem sentia mais o vento bater no rosto, era algo extremamente poderoso e espetacular o que acontecia aos meus sentidos.

Era como se estivesse em outra dimensão.

Ao cruzar a linha de chegada, aquele homem das idéias tolas foi forçado a se retirar. E o mundo viu naquele momento, que enquanto um homem poder lutar contra a opressão, com toda a sua dignidade, o mundo não vai se calar ante a intolerância. Meu nome é James Cleveland Owens. Negro, teimoso e 5 vezes campeão olímpico.