sábado, 23 de abril de 2011

O Anjo da Guarda


 E de repente tudo ficou escuro.


Em dois segundos eu senti o impacto e passei por cima do carro.


Naquele exato momento eu não sentia dor, apenas o pavor do susto. Ao acordar me vi deitada, a rua estava parada,  e muitas pessoas estavam ao meu redor. Tentei me levantar, apoiei a mão no chão, e só  então eu senti o maior de todos os pânicos daquele dia.


Eu não estava sentindo minhas pernas.

 Algumas pessoas chegaram ao fundo, e  eu vi o motorista do carro que me atropelou apavorado olhando ao redor, não sabendo se ia me socorrer ou fugir dali, sem ser visto. Outras pessoas começaram a gritar:

- Leva ela para o hospital pelo amor de Deus!


E então mais pessoas chegaram, a rua estava lotada, e percebi que eu já não era mais uma pessoa ferida e sim uma atração. Alguns motoristas paravam o carro e ficavam me olhando, pude sentir,  da minha costela algo escorrendo para meu braço, era sangue, e em muita quantidade. O pavor que sentia inicial então se intensificou, e naquele momento eu pensei : porque eu fiz dieta se eu ia morrer cacete, mãe eu te amo, pai eu te amo, Cesar me perdoa pelo que eu fiz...


Fechei os olhos e me entreguei... Que jeito horrível de morrer.
 E então com um jeans desbotado e uma camisa branca, pedindo passagem por entre as pessoas...... ele chegou.


Disse em um tom de voz que remetia a autoridade, uma espécie de autoridade que as pessoas reconhecem ao primeiro toque, fazendo todos com quem falava se remeterem a sua vontade naquele instante:

Disse para um homem de blazer que estava perto:

- Você... Ligue para a emergência agora!


Disse para outro rapaz, que lembrava muito um Office boy por causa das pastas:


- Você pegue um cone daquela loja, sinalize esta parte da pista!


E finalmente disse para três mulheres que acompanhavam o rapaz de blazer:


-Peguem os dados do motorista, placa, cor do carro, nome... fiquem de olho, se ele tentar fugir, não permitam !


Olhou para mim e me disse:


- E ai tudo bem? Dia difícil hoje não?


Então ri... ele tinha senso de humor.
-Fique tranqüila, estar consciente é um bom sinal, tudo já foi providenciado, você não pode se mexer neste instante, para evitar qualquer lesão maior. Fique em paz, a ambulância esta chegando!

Então chegou a ambulância, quase 40 minutos depois do acidente. Antes de ir, as mulheres que ficaram de olho no motorista trouxeram os dados em um papel e guardaram na minha camisa, e ele com medo, acompanhou-me até o pronto socorro. Ele pagaria caro por ter me atropelado na faixa de pedestres em um sinal fechado, mas naquele instante nem  pensava tanto nisso.


Antes de a ambulância fechar as portas, vi mais uma vez aquele homem de camisa branca e jeans desbotado me olhando, ele me deu um tchau e virou de costas, enquanto andava pude sentir os efeitos da medicação que tinha acabado de tomar, e o vi se distanciando em câmera lenta. Parecia um final feliz de um filme de horror.


Já no hospital ficou constatado: duas fraturas de costela, uma perna quebrada e uma lesão na coluna. Porém voltaria a andar, nas palavras do médico:


-Menina agradece a Deus que a pessoa que te socorreu não mexeu em você, se isso tivesse acontecido, andar seria uma probabilidade distante...


Um ano e três meses depois, já andando normalmente e bem, voltei a aquele local. Perguntei sobre o homem que me socorreu e ninguém sabia me dizer se ele trabalhava ali. Cheguei a fazer um retrato, mas ninguém o reconhecia. Sem alternativa, mandei fazer uma placa enorme e pendurei naquele farol próximo ao local do ocorrido. Na placa estava escrito “Há um ano e dois meses sofri um acidente aqui, sei que talvez você nunca leia esta placa, mas eu só queria dizer, obrigado estou bem“.


Algumas pessoas não acreditam em anjo da guarda, algumas acham que seu anjo tem asas e se comunicam por orações, alguns vêem anjos como personagens de filmes outros vêem anjos como cartas de tarot, mas os anjos da guarda estão por ai, podem ser os seus pais dizendo para você não viajar antes daquele acidente, pode ser o caixa do banco guardando o dinheiro no envelope, ou podem ser os bombeiros que não deixam você pular de uma ponte em um dia de desespero... mas para mim, um anjo da guarda sempre vai estar vestido de jeans e camisa branca, andando em qualquer lugar...esperando o momento certo para te salvar...sempre !


Até a próxima postagem

domingo, 17 de abril de 2011

O Alfa e o Omega


Lembro que a primeira vez que tive noção da sua existência, te imaginava um velhinho de barba branca, que gostava de tocar nos dedos dos outros enquanto passeava no céu. Os livros faziam questão de mostrar esse desenho. Eu tinha uns seis anos naquela época.

 Mais tarde, na crisma, comecei mudar esta imagem, e de velhinho no céu você passou para Deus pai todo poderoso, Pai do cristo que se sacrificou por nós. Naquelas estátuas sangrando, cheias de sofrimento, tentei evitar formar alguma imagem, e desisti de me comunicar fazendo repetições. Eu respeito muito essa gente,mas queria mais que um deus de frases decoradas. Decidi te procurar, e te conhecer em essência.

Já na outra igreja, aquelas que se opõem as primeiras que fui em método e idéia, descobri um deus que abençoa e um deus que pune os pecadores.
Pregavam a volta do filho, trazendo uma justiça para aqueles que não obedecem a suas leis e as leis de seus representantes na terra. Eu sou um pecador, eu sabia que em algum momento poderia ser punido, mais também não imaginava um deus que fica escondidinho esperando você aprontar pra te der uma chibatada. Procurei-te em outros lugares, acreditando que sua meta não era castigar mais levar a reflexão. Não que punir ás vezes não fosse necessário, mas um deus de verdade não seria só castigo.  Decidi sair mais uma vez em sua busca.

Fui convidado para um lugar especial, e dessa vez parecia ter acertado, nesta versão você era um arquiteto, que tinha um desígnio para cada coisa, onde tudo que fazemos e tudo que pensamos se reflete. Lá as cerimônias são bonitas, e tinham pessoas de todas as religiões que se respeitavam e comiam na mesma mesa, tudo era bastante apropriado, mas naquele local, eu descobri um deus que só ama os escolhidos que estão entre eles. E apesar de ser o lugar mais próximo da minha utopia, ainda não era o que eu procurava. Mesmo assim lá permaneci, pois lá encontrei pessoas de valor inestimável que me ajudaram de forma única. Adotei aquele lugar como minha base teosófica, ainda vou lá, mas segui em frente. Era preciso te encontrar.

Decidi te buscar no Oriente, lá não se fala tanto em você, mas se da à idéia de como podemos te alcançar. Fiquei feliz, pois aqueles locais não faziam assepsia de pessoa nenhuma e te remetiam a reflexões profundas e duradouras que todo ser humano deve ter em sua vida. com o tempo, descobri que somos mais desequilibrados do que equilibrados, e que para chegar ao nível que as pessoas se proporiam naquele lugar, eu tinha de me distanciar do amor...

E isso eu não estava disposto a fazer...

Coisas aconteceram no meio do caminho, vieram algumas dificuldades que muitos de nós passamos, e precisamos resolver com certa emergência, e era exaustivo.
Então em uma decisão extraordinária... 

Eu decidi parar de te procurar.


Pelo menos por um tempo.
Levar minha vida como qualquer ser humano normal, aproveitar com prazer e conhecer tudo que poderia sobre como me desenvolver. 
Uns me diziam que Deus era uma opção, que se acredita ou não nele, mas evitava pensar naquele assunto naquele momento. Com os estudos e a ciência consegui me distanciar da idéia de que precisava te compreender, e você ficou um tempo guardado em algum lugar dentro de mim. Eu vivi este período, como me propus, mas o incómodo de saber que existia uma pendência entre nós, não deixou que esta fase se completasse. 


Mal sabia que  naquela mesma semana, descobriria diferença entre procurar e ser procurado.



 Um dia no metrô em uma região de São Paulo, uma criança parou na minha frente, e ficou me olhando ininterruptamente. Tentei achar os pais no meio daquela multidão, a estação estava lotada aquele dia, mas a criança estava lá me olhando... 

Era uma situação estranha, o que uma criança faz sozinha em um lugar como aquele ? Sem hesitar decidi me aproximar e perguntar:

- Onde estão seus pais garotinha?

E então ela me disse:

- Eu te amo...

Algo aconteceu comigo naquele instante, pois todo o barulho do metrô e toda aquela confusão tinham cessado aos meus ouvidos. 
Comecei a sentir uma coisa estranha no estômago, mas não era algo ruim, era bom.  Perguntei-me se tinha ingerido algo que pudesse me levar a ter alucinações, mas não, não me lembrava de ter comido nada estranho naquele dia. Tudo ao meu redor começava a ficar pequeno, como se eu estivesse crescendo sem parar, e naquele instante uma profunda vontade de chorar me invadiu.

E foi neste instante... Que pude entender... 
 No meio de umas quatrocentas pessoas naquele local, comecei a chorar de alegria.

Você era o velhinho, o pai do cristo sacrificado, você era o que punia você era o arquiteto, você era o olhar da criança, você era a esperança, o por do sol, a folha que caia da arvore, você era eu, você era todos ali... Você era o Alfa e o Omega!



Sim, era um erro tentar te ver, tudo que eu tinha de fazer é tentar te sentir... estava errado tentando procurar fora de mim, você estava o tempo todo ali, era o caminho que eu percorria...era pleno, estava pleno, agora eu poderia seguir minha vida em paz, pois não tinha mais pendências. Eis o Deus, o ágape, a força suprema que se manifesta.
Passado as sensações, procurei pra ver se achava a menina. Voltei claramente a ouvir o barulho do metrô, e toda a inquietação que é aquele lugar. Vi que algumas pessoas ofereciam ajuda pensando que eu estava de alguma forma passando mal, agradeci e fui para um lugar mais fresco. Questionei-me se ela era fruto da minha imaginação, ou se aquilo tudo existiu realmente, mas  já não mais me importava.
Eu tive minha experiência verdadeira, a que eu tanto procurava. Eu estava feliz.



Hoje admito que não converso tanto o quanto eu queria contigo, o dia a dia e o cansaço me minam, e nem sempre me lembro de você como deveria, mas sempre que posso agradeço. Sinto que você me olha como aquele garoto sapeca que todo pai adora, que apesar das coisas que apronto no fim do dia sempre tem um sorriso no seu rosto. 
Ainda me custa acreditar que as pessoas usam seu nome para guerrear, ou para matar de qualquer outra forma. Tudo que eu queria naquele momento era que essas pessoas tivessem uma tarde no metrô como a minha para enxergar a verdade. 


Somos todos parcela do divino e agredir começa um ciclo de mal que quase sempre não acaba. 

Bem velho eu sei que você deu braços, pernas e cérebro para a gente se virar aqui embaixo, mas sempre que possível da uma força... somos fracos, lentos, demoramos as vezes uma vida para perceber que no fim das contas...você é muito mais simples....apesar de ser o Alfa e o Omega. 

Obrigado por me fazer como sou, por tudo que me deu e de tudo que ja me livrou, obrigado por tudo que me mostra...obrigado por me fazer acreditar no sobrenatural em um mundo de céticos, e por ninguem conseguir provar que você não existe !

Um abraço e até a próxima postagem

segunda-feira, 11 de abril de 2011

12 mortos e 190 milhoes de feridos !

Vi este título em um telejornal e achei muito prudente.

Sempre tento postar coisas do meu dia a dia, e reflexões sobre isso, mas desta vez é impossível ignorar este assunto. Eu me pergunto como uma pessoa é capaz de um grau tão alto de crueldade para entrar em um recinto e matar doze crianças?

Não penso nas ações que motivaram este individuo, mas na falta de respeito à vida, que culminam neste tipo de tragédia. Como viver em paz sabendo que em qualquer hora do dia, pode entrar em um louco em uma escola e sem aparato de segurança nenhum matar  crianças aleatoriamente. Uma criança que poderia ser seu filho.

Será que as instituições publicas pensam na segurança das crianças enquanto alunos ?
Se um cara pode entrar com duas armas em uma escola pública, 10.000 traficantes podem entrar para vender drogas em todo o país. Penso que as secretarias deviam ter um espaço isolado para atender o público e ex alunos não tenham o direito de entrar na escola já que não fazem mais parte daquele quadro.

Eu estou chocado....eu fui aluno de escola pública.
Acorda Brasil, temos mais um motivo entre milhões para cobrar o descaso dos governantes.

Em respeito à dor das famílias...


sexta-feira, 1 de abril de 2011

Doze copos de café



Sexta –feira:

O despertador toca... 05:30,
 Ele ouve, mais o corpo não se move, as dores de cabeça chegam ao ápice... por um instante pensa:

Não vou....dane-se trampo, dane-se facul....quero dormir. 

Afinal ele não seria o primeiro a desistir, na família ninguém fez faculdade, outros amigos tiveram cinco filhos, outros morreram com drogas, outros moram com os pais... ele não iria ser o primeiro a desistir, nem o último...o mundo ta cheio de gente que desiste, quem se importa..
Fechou os olhos.
De repente o home theather também desperta... um recurso para caso não acordasse com o despertador, e a mesma música que ouvia todos os dias no metro, (My Hero - Foo Fighters) começa a tocar.
Em cada batida de bateria, ele começa a ver os rostos de todos aqueles que ele ama, de todos que desistiram, de todos que acreditavam nele.  

Então, naquele poderoso momento sublime e mais difícil de seu dia, junta todas as suas forças, e como a fênix mitológica se levanta. Os músculos não obedecem, e com dores ainda fortes, ele caminha na escuridão até o chuveiro do banheiro, onde mesmo naquele dia... a água revigora.

Segue seu caminho... antes do ponto para em uma padaria, e toma um café amargo. Seria o primeiro dos doze copos que tomaria no decorrer do dia. Lá dentro o reflexo no espelho do balcão mostrava uma pessoa abatida, com olheiras, cansada... mas para ele, olhar aquele reflexo era uma coisa superficial.
Em baixo do rosto abatido, das olheiras, de todo aquele cansaço, existia um ser humano único no universo, que lhe dava muito orgulho...


  Sorri para si mesmo como se fosse um louco... corre para o ponto.
 Na sexta-feira o trânsito é uma merda...





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"O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis."
Fernando Pessoa